domingo, 29 de abril de 2012

Relatos de São Luís

Essa história não tem um final feliz como teve a última postagem sobre uma viagem que fiz, que você pode conferir clicando aqui.





O Metal Open Air não foi nada daquilo que acreditamos que seria quando compramos o ingresso. Isso é fato. Mas também não foi uma porcaria completa pois, se existe uma coisa que é capaz de transformar qualquer momento de merda em algo especial, são os amigos e o Heavy Metal. Vamos por parte.

Dia 1
O pouco que dormi nesse dia foi justamente o trajeto do avião entre Macapá e Belém e, mais tarde, Belém e São Luís. Tanto no aeroporto de Belém quanto no de Macapá era fácil olhar pras pessoas e reconhecer quem ia para o evento. Cabelão, camisas pretas com logotipos de bandas e albuns. Era bem o clima que se esperava a véspera do MOA. No aeroporto de Belém me juntei ao Charles e ao Danilo e fomos para São Luís.
A começar pelo aeroporto em reforma, eu achei São Luís a cara de qualquer coisa que tenha o nome de Sarney envolvido. Fomos passear pela cidade para encontrar o Shopping com posto de venda de ingressos para comprar o ingresso Danilo. Fomos para um Shopping, lá descobrimos que o ponto de venda ficava em outro Shopping. Uma segurança ensinou a gente a pegar ônibus pra lá. No ônibus a cobradora disse que nenhum ônibus que passava naquela parada ia para o Shopping que a gente queria. Pegamos um Táxi. O taxista confirmou o que a cobradora disse. Chegamos no Shopping, e lá vimos o maldito ônibus que a gente tinha pego passar bem na frente. MAS QUE PORRA!
Compramos o ingresso, e lá o Charles descobriu que existia algo chamado e-ticket que ele precisava imprimir pra trocar o ingresso no dia u.u. Aí foi a missão para encontrar uma lan-house. Entramos num bairro fodido atrás da maldita lan-house, pedindo informação pra todos, indo de um lado pro outro, dando voltas e etc. até a gente finalmente conseguir encontrar uma lan-house. Sabe aquelas lan-houses bem fedorentas? Pois é. Acessando o e-mail, o Charles descobriu que nunca sequer foi enviado o e-mail com o link para imprimir o e-ticket. No site da ticket brasil que redirecionava para compras relativas ao MOA, dizia que o cadastro dele nem existia! Foi tenso. Passamos a tarde tentando resolver essa bronca. Voltamos para o Hotel (uma boa oportunidade pra tirar um cochilo dentro do ônibus) e chegamos a conclusão de que a gente ia ter que chegar bem cedo no local do MOA pra resolver esse problema.
A noite, o Charles encontrou alguns restaurantes através do Google Maps perto do hotel (que ficava no centro histórico de São Luís) pra gente ir jantar. Eu já tinha sido alertado de que o centro histórico era um lugar perigoso, mas os restaurantes ficavam tão pertinhos que parecia que não ia dar merda.
Puta que pariu. Nunca vi tanto mendigo na minha vida. Aquela porra às 19:00 era completamente deserta. Lembro muito bem de um mendigo chapadão que ficou no meio da rua. Fez um gesto pra parar um carro que vinha na rua, olhou pra gente e disse "passa, passa!", expulsando a gente do lugar. A passos rápidos, a gente descobriu que não tinha um maldito restaurante aonde o Google Maps indicou. Cada vez mais cheios de mendigo e de gente esquisita por lá, a gente viu um táxi estacionado na rua e fomos até ele. Eu só disse "Leva a gente em algum lugar pra comer!"
O taxista levou a gente pro reviver, um lugar no centro histórico com bares, lojas de artesanato (pra comprar aquelas lembrancinhas), um monte de barraquinha vendendo lembrancinhas, hippies e outras coisas. Como era de se esperar, o lugar tava cheio de metaleiros que vieram para o MOA. A primeira coisa que eu quis, ao chegar lá, foi tomar uma cerveja, depois da tensão que foi andar entre os mendigos. No final das contas, a gente tomou umas brejas e jantou numa barraca chamada Rei do Bijú (tapioca como é conhecido por aqui). Aliás, recomendo, muito boas as tapiocas recheadas! Depois disso, a gente foi dormir para o longo dia que seria o primeiro do MOA.

Dia 2
Nós três comemos quase um bolo inteiro que tinha no café da manhã da pousada. A meta era comer muito no café pra não ficar com fome cedo no festival. Lá chegando, fizemos amizade logo na fila. Não demorou muito a Even também chegou. No final das contas o Charles sem problemas conseguiu retirar o ingresso dele lá. Ou melhor, a aquela pulseirinha ridícula que deram pra gente. A bagunça já começou aí, parecia pulseira de 'camarote' de festas do gênero lixo que a gente tá acostumado por aqui. Foi lá também que eu descobri que o Venom e o Saxon, as Headliners do último dia do festival, tinham cancelado os seus shows. Se pra mim parecia ruim, pior foi pro tio que teve que pedir demissão do emprego pra vim pra São Luís só pra ver o Venom! A gente tava comentando lá sobre o quanto ele devia tá arrependido. Eu por um lado penso que o chefe dele devia ser um merda. Pô, o cara tinha um cargo de confiança, devia trabalhar a sei lá quantos anos, não dava pra dar uma folga em um final de semana para um evento tão especial quanto deveria ter sido o MOA?
Ok. Entramos no parque. Vimos o palco. De longe parecia lindo. De perto, vimos que nem as drogas das baterias tinham sido montadas. Como chegamos a conclusão de que o negócio ia demorar pra caralho pra começar a rolar, decidimos ir atrás de comida. O cara da churrascaria que tinha lá disse que ia funcionar só após as 2 horas da tarde -.- O jeito foi comer um misto escroto de 5 reais, preparado por uma tia que pegava no dinheiro e coçava o cabelo com a luva. Também fizemos um estoque de biscoito que foi o que nos permitiu permanecer vivos nesse primeiro dia de festival.
O calor de São Luís era horrível. Se não tomasse a cerveja em 5 minutos, ela já esquentava. Lembro que faltava queimar meus lábios com o alumínio quente toda vez que botava uma latinha na boca.
Passaram horas, encontramos gente de Macapá, vimos algumas personalidades bizarras por lá e, finalmente, com 5 horas de atraso, o festival começou com um show muito irado da Exciter. Logo após, veio a banda israelita (israelense, sei lá) Orphaned Land. O vocalista tava vestido de Jesus, cantava "nananana", um heavy metal misturado com músicas árabes e insistia dizendo"I'm not Jesus Christ." Particularmente eu achei irada a banda! Depois teve o Almah com o Edu Falaschi dizendo que "problemas eram normais" e " wacken e o rock in rio começaram assim". De fato, até aquele momento, parecia que ia dá tudo certo, apesar dos cancelamentos e contratempos. Em seguida, teve um show fera do Anvil, banda que não conhecia até o momento. Depois teve Shaman, com a nova formação. Foi muito bacana cantar Fairy Tale e For Tomorrow. O Thiago Bianchi pode não ser o Andre Matos mas até que se garantiu cantando.
Aí veio o show do Destruction. Imaginem uma banda com esse nome entrando no palco com um barulho de motosserra. O show foi muito foda, eu entrei no mosh junto com o Giovani, sobrevivi, balancei muita cabeça e curti muito. Pra foder com tudo, logo em seguida veio o Exodus com um showzaço também. Mas uma vez balançar cabeça e curtir, mas não tive coragem de entrar nas rodas. Nesse ponto do festival eu percebi o quanto estava destruído. Após, o Symphony X entrou no palco, mas eu vi bem pouco do show deles, pois tinha finalmente ido almoçar, não faço ideia de que horas era aquela, mas devia ser por volta das 00:00. Me disseram que aquela comida era ruim, mas pra mim foi uma das melhores coisas que eu já tinha comido. Definitivamente eu tava fodido. Deu pra ver o final do show do Symphony X que parecia estar muito fera. Finalmente começou o show mais esperado da noite, o Megadeth. Uma merda. Som péssimo, Dave Mustaine cheio de frescurinha. Eu já tava dormindo em pé. Foi quando a gente decidiu sair do palco e procurar um canto pra sentar lá pra trás. Acabou que a gente terminou de assistir o show em um telão.
A volta pra casa foi triste. Nenhum táxi parava pra gente naquela merda. A gente tinha que dar um jeito de andar mais depressa que os outros grupos de pessoa pra ter mais chance de encontrar um táxi vazio lá na frente. Quando encontramos, o motorista era definitivamente o cara mais maluco que eu já conheci na vida. Velocidade normal era 100 km por hora. O carro devia ter o fundo e a suspensão de titânio, bem como sinais vermelhos não significavam nada pra ele. No outro dia, conversando com uns caras que conheci lá, eles relataram que pegaram um táxi semelhante!
Chegando no hotel, a meta era dormir até meio dia do dia seguinte.

Dia 3
Após o almoço, fomos atrás de ônibus pra ir pro festival. Mais uma vez a gente se perdeu por lá.  Enfim, chegando no terminal certo, encontramos uns caras que também iam pro MOA e eram de São Luís, ou seja, eles não se perderiam. No terminal eu também conheci um cara que vi de longe no primeiro dia do festival e apelidei de "Jack Sparow Black Metal". O cara parecia o Jack Sparrow, mas com um sobretudo negro em pleno calor miserável de São Luís! O cara era até gente boa e fomos trocando umas ideias no caminho. Chegando no MOA, já deu pra ver que o negócio tava bagunçado de novo. Nem me revistaram quando entrei, o cara só conferiu se a pulseira tava no pulso. Quase não deixam a Even entrar pois o símbolo "MOA" na pulseira dela tava quase sumindo. Chegando no palco, vi que tinha um monte de gente lá encima. Perguntei o que era para uns caras que estavam por lá, e me explicaram que o pessoal do som tava levando o equipamento embora, pois não tinham sido pagos! É RIR PRA NÃO CHORAR VELHO! XD Mas tinham feito um acordo lá e o festival ia continuar "normalmente". Nisso, já tinha gente dizendo por lá que grave digger e blind guardian tinham cancelado seus shows, as duas bandas que eu queria ver. Outros diziam que o Blind tinha voltado atrás e na internet eu não encontrei nada falando sobre o cancelamento do Digger. 
Então, todo mundo pintou a cara estilo William Walace para assistir o show do Digger. Fomos pra frente do palco e às 6 horas, começaram os shows com a banda Ácido. Thrash Metal de qualidade, eles levantaram a galera presente. Em seguida, veio o Dark Avenger. Se o vocalista tivesse ficado na dele, teria sido tudo tranquilo, mas o cara foi querer defender os organizadores do festival... Enfim, um lance curioso desse show foi quando ele disse que iria tocar uma música chamada "Rebellion" na mesma hora, eu, o charles e mais uma galera começamos a cantar o clássico de mesmo nome do Grave Digger, pra dar aquela trollada básica. Após o show do Avenger, vieram dizer pra gente que o Blind e o Digger tinham cancelado, e que tinha saído no G1! Eu não quis acreditar, apesar de todos os indícios, mas confirmei olhando a internet no celular. Realmente, tinham cancelado. Saiu todo mundo puto e desolado da frente do palco. Nessa hora a gente foi tomar uma cerveja de consolo, e fomos "marchar contra uma pizza." Começou o Show do Legion of The Danmed, mas a gente nem foi ver, tava todo mundo arrasado. Após esse Show, era pra ter U.D.O. segundo o que eu tinha lido, então a gente resolveu que iríamos pelo menos assistir os caras, de longe. Parecia que ainda não tinha caído a ficha de que todo aquele evento tinha dado errado e que não assistiríamos as bandas que tanto queríamos ver. Andando um pouco por lá, aproveitamos pra invadir a área vip (sim, negócio tava bagunçado mesmo) e concluir que realmente não tinha bosta nenhuma de interessante por lá. Saindo de lá, descobrimos que ia ter show do Korzus e resolvemos assistir, de bem perto do palco já que o ambiente por lá tava bem vazio.
Puta que pariu. Não tenho palavras pra descrever o que foi aquele show. Quando os caras entraram começou uma roda do caralho perto da gente. Parece que toda raiva do festival estava sendo exasperada naquele mosh pit. Eu lutei muito pra não ser levado, mas acabou que me empurraram pra roda. Eu pensei "Já to na merda mesmo" e fui pirar lá com a galera. Dei a volta no mosh todinho e, quando tava pra sair e voltar pro lugar onde eu tava com o pessoal, eu não dei conta de sair e tive que dar outra volta completa naquilo enquanto a galera se acabava por lá. Finalmente voltei pro meu lugar. Então o Marcelo Pompeu fez um protesto épico no palco. Nunca senti tanto orgulho de ser quem eu sou e do tipo de música que eu escuto quando ouvi o que ele disse. De fato, nós os bangers somos uma nação. Mais do que tudo, somos civilizados, o que ficou provado no evento pois não houve quebra-quebra mesmo com toda a raiva do público. Vale ressaltar que aquele lugar ficou cheio de policia e ambulâncias, esperando que rolasse confusão, mas os caras não tiveram trabalho nenhum! Os únicos relatos de violência que eu ouvi falar foram porque pessoas invadiram o local, devido a segurança precária. Ali, ficou claro que a empolgação da galera em todos esses dias foram em respeito às bandas que subiram no palco. Ninguém estava satisfeito com o evento, mas quando alguém subia no palco e tocava Heavy Metal para o público, o público respondia com respeito, balançando a cabeça, cantando, gritando, fazendo as rodinhas e o "chifrinho"com as mãos. Isso é Heavy Metal. Infelizmente a imprensa e a maioria das pessoas não sabem qual é o sentimento que existe entre os fãs e os seus ídolos. Pensam que é tudo violência, tudo do diabo...
O korzus fez o show completo, tocou mais de duas horas, bem mais tempo do que o que eles deveriam ter tocado no festival. Teve a Wall of Death, que eu não tive coragem de participar, mas subi numa grade lá pra ver tudo de um ângulo foda. Balancei a cabeça, bebi, curti. Cantei o hino nacional junto com todos os presentes. Invoquei uma água, na hora que eu disse "porra, tudo que eu queria agora era tomar uma água", um dos membros da banda jogou uma garrafa de água pra platéia que caiu certinho no colo do Rodrigo. Por fim o korzus terminou a noite com chave de ouro tocando raining blood do Slayer. Fomos todos pra casa obviamente decepcionados com o festival, mas não totalmente desanimados por causa do show que nos fez ter orgulho de ser banger, de ser guerreiros do metal!

Dia 4
A gente realmente nem quis saber se ia ter ou não o terceiro dia do MOA. Era dia de ir pra praia e aproveitar a cidade. Acabou que nem fomos pra praia. XD Fui assistir fúria de titãs 2, só pra dormir. Na internet, eu vi que o MOA tinha sido definitivamente cancelado, inclusive com uma foto muito engraçada de um banger levando as mãos a cabeça enquanto via o palco ser desmontado. A gente resolveu salvar o que tinha da viagem indo novamente pro reviver, tomar uma cerveja por lá.
Como era de se esperar, o lugar tava cheio de bangers. Gente vestida de preto e de cabelão. Tinha um bar que tava tocando Metallica alto pra caralho. Lá chegando, vimos que o som era proveniente de uma Juke Box! Aí tinha uma galera bebendo, outras pessoas balançando a cabeça enquanto tocava One na Juke Box. Olhando pra cara das pessoas, eu vi que o sentimento não era de raiva ou revolta, desprezo ou decepção. Obviamente que tava todo mundo puto. Mas parecia que estava todo mundo de luto. Como se um grande amigo de anos tivesse ido embora e estivessem todos solidários, conversando sobre ele e tomando uma cerveja em sua homenagem.
Saindo do bar do Metallica, fiquei sabendo que tinha um bar lá por perto que só tocava metal. Fomos descobrir qual era. Ô lugarzinho trash. Imaginem o liverpool. Agora tirem todas as mesas e cadeiras. Pronto. Era mais ou menos assim o local. Devia ter no máximo umas 3 mesas quando a gente chegou e tava tudo ocupado. O jeito era ficar em pé, jogando sinuca e ouvindo metal em um DVD que tava tocando lá. Acho que foi um lugar bem digno pra se terminar a viagem pra São Luís. Fiz amigos novamente por lá e a gente se divertiu da maneira que pôde.

Depois de tudo, só restava voltar pra Macapá no dia seguinte, arrasado mas não derrotado.
O festival não foi uma merda completa, tudo que teve de bom, foi realmente muito bom. As bandas que subiram deram um espetáculo (fora o Megadeth que foi ruinzinho). As amizades que fizemos lá não têm preço, sem dúvida a melhor coisa do festival. Também a própria experiência de estar num festival valeu a pena. O lance de sobreviver a base de biscoito, almoçar lá pra meia noite, ter que utilizar banheiro químico (que é bem menos tenso do que eu pensava que era)... É trash, mas são histórias pra contar.



Claro que ninguém teria se dado o trabalho de sair da sua cidade só pra se foder lá em São Luís e depois ficar achando graça de tudo. O que nos resta agora é continuar o exemplo de civilidade que não resultou em quebra-quebra durante o festival e cobrar os nossos direitos na justiça. Afinal de contas, fomos humilhados e enganados, vítimas do descaso. Temos que reagir pra que palhaçadas como essa não se repitam e o público do Heavy Metal seja tratado com mais respeito, nem que isso signifique a falência das produtoras responsáveis pelo fiasco que foi o evento. Essa é a hora de nos unir e mostrar que o público do Heavy Metal não é palhaço e merece respeito! Vamos marchar contra toda essa corja demonstrando toda nossa indignação, ainda que nenhum centavo retorne a nossos bolsos, mas vamos acabar com esses produtores malditos e manchar para sempre o nome deles!

HAIL AND KILL MY BROTHERS!! \,,/