sexta-feira, 21 de outubro de 2011

... Defenderei até a morte o seu direito de fazer piada - ainda que seja sem graça

"...eu comeria ela e o bebê"


Não é de hoje que as pessoas criticam e processam o Rafinha Bastos por causa das "piadas de mau gosto" dele. Não vou entrar no mérito da piada (se é engraçada ou não), mas sim falar um pouco sobre o tipo de humor do Rafinha Bastos, o que pra muitos é de mau-gosto ou ofensivo.
Eu sou um grande fã de humor-negro e posso passar horas vendo tirinhas na internet e piadinhas sobre negros, pobres, crianças com fome e etc.
Já do Rafinha eu não sou tão fã assim (até dei unfollow nele no twitter porque estava achando muito sem graça) porém eu me sinto obrigado a defender o tipo de humor que ele faz (como se fosse mudar algo no mundo).
As piadas feitas pelo Rafinha Bastos são um tipo de humor que já está a muito consagrado lá no Estados Unidos. A coisa é zoação total, pegam pesado mesmo e até as próprias "vítimas" do humor chegam a participar dos programas de humor de forma totalmente auto-depreciativa, mas, convenhamos, engraçada. O Rafinha a muito tenta implantar esse tipo de humor americano aqui, o que começou a dar certo com a atual cena de stand-up comedys que surgiu no Brasil. A muito tempo também que ele faz piadas "de mau gosto", inclusive na internet. A diferença é que agora, na TV, ele tem muito mais visibilidade. Assim a coisa acaba ganhando proporções muito maiores. E quem não "entende" a piada, ou melhor, o conteúdo humorístico do que foi dito, acaba fazendo um monte de críticas e transformando o humorista em um monstro, ainda mais em uma mídia sensacionalista filha da puta igual a nossa.
Claro que a Wanessa Camargo tem direito de ficar puta com o Rafinha. Puta brincadeira infeliz de mau gosto, concordo. Mas aí, processar em 100 mil reais? Caralho! O cara fez só UMA PIADA! A PORRA DE UMA PIADA! Muito ruim, MAS APENAS UMA PIADA! Sinceramente, na frase do Rafinha Bastos eu consegui vislumbrar somente uma brincadeira infeliz, tosca e de mau gosto, mas nada de dano à imagem, à honra, nada de difamação, calúnia, injúria, de depreciação a profissão dela, de chamar ela de feia, nada! Não chegou sequer a ferir a intimidade dela já que a gravidez dela é PÚBLICA! Só uma brincadeira de mau-gosto! Se ele tivesse dito "É uma puta escrota que vive engravidando e ainda canta mal" até dava pra entender!
Vamos olhar as coisas por outro ângulo. Eu e meus amigos somos péssimos. Péssimos mesmo. A gente vive falando mal um dos outros (pela frente mesmo) e depreciando uns aos outros. Eu vivo dizendo que o Cainã é judeu, o Rafael Taboga é um gordo escroto (agora ex-gordo né), que o Thales é preto e gordo (ex-gordo também, mas uma vez preto, sempre preto), que o Klinger é gay porque escuta Restart e etc. Assim como também a galera vive me zuando. E é claro que eu fico puto quando alguém diz "QUATRO E MEIA EU VOU LEVAR A MINHA MALETA" ou quando me chamam de Seu Donizildo. Mas depois a gente acaba levando numa boa, até por que estamos entre amigos.
Quando você é uma celebridade, sua exposição é muito maior, querendo ou não. Assim, pra tudo tem que ser dado as devidas proporções. O cara dizer em rede nacional que comeria a Wanessa Camargo é o mínimo que ela poderia esperar de um comediante já que ela é uma famosa gostosa (eu acho que é gostosa, ou pelo menos deveria ser gostosa, nunca mais vi a cara dessa mulher) com visbilidade nacional. Claro que é um comentário que pode soar ofensivo. Mas pera lá! O cara é comediante, o trabalho dele é contar aquela piada (a mesma que você conta quando está entre amigos) para o grande público, para todo mundo. Não que, por ser comediante, ele tenha liberdade pra falar qualquer merda. Mas esse tipo de brincadeira (ainda que de mau gosto, repito) já deveria ser previsível na vida de uma celebridade e deveria ser bem ponderada na hora de se utilizar dela para mover uma ação judicial. Sério, até que alguém me convença do contrário, eu não consigo ver tamanha gravidade nas palavras do Rafinha Bastos. Até que me convençam do contrário, eu vou continuar achando que estão confundindo mau gosto com ofensa.
Repudiar uma brincadeira dessas é negar a própria natureza do povo brasileiro, que é um povo MUITO ZOADOR, mas que vive escondido atrás de uma máscara de hipocrisia e falsa moralidade.
A única diferença entre o Rafinha Bastos, eu, você e os demais conteúdos humorísticos publicados diariamente na internet é a visibilidade que ele tem.


Agora, se a Wanessa Camargo não gostou da piada, ela tem todo direito de processar ele, afinal o acesso à justiça é garantia fundamental prevista na Constituição e blábláblá (e acho até que ela vai ganhar, do jeito que nossos juízes são malucos). Foda é o povo se doer pela seguinte frase dele:
"... Se eu também morasse em Macapá iria querer me matar"
Aí o povo macapaense começou a se doer por causa da afirmação acima. Ah mano, dá um tempo! Vocês nunca chamaram gaúcho de viado não? Nunca chamaram Bahiano de preguiçoso? Flamenguista de bandido? Nunca perguntaram pra alguém de manaus como é morar em uma aldeia? Nunca disseram que em Brasília só tem bandido? O brasileiro (inclusive o amapaense) faz piada com todo tipo de estereótipo. Aí quando é com a gente, não pode? "Ah, mas esses são comuns, já tão acostumados com as piadas." HIPOCRISIA DO CARALHO ¬¬ Convenhamos: 1) em um estado que não tem Banda Larga, fica isolado do resto do Brasil, o único acesso é pelo ar ou pela água, não vai pra frente, fora os demais problemas, a vontade que o sujeito tem mesmo é de se matar! 2) quem fica putinho com o Rafinha Bastos falar mal de Macapá é provavelmente um desocupado que não tem o que fazer (perdoem o pleonasmo), aí fica falando mal de humorista. Aliás, gente desocupada é o que mais tem nesse estado, motivo pelo qual ele não vai pra frente mesmo.


Enfim, essa cultura hipócrita e moralmente falsa do brasileiro só reforça aquilo que eu penso sobre o povo do meu país. É um povo mal educado e hipócrita. Tão mal educado, que, como eu vivo dizendo, a gente tem que ter lei pra tudo aqui. Agora estamos virando a porra do país do processo, nos moldes dos Estados Unidos. Só é uma pena nós não termos aqui um instituto tão poderoso quanto a primeira emenda, que os americanos têm. Liberdade de pensamento nos limites da lei? Isso não existe no Brasil. Não com o medo que temos aqui de fazer piada com as coisas. Aliás, já to até vendo as pessoas virem me crucificar por causa desse post. Mas foda-se, eu sou um fudido mesmo, não sou o Rafinha Bastos, ninguém vai querer me processar.
Por fim, se acabássemos com o véu da hipocrisia nesse país, começassemos a aceitar o humor como HUMOR MESMO, não como ofensa, este seria o caminho para a construção de uma sociedade mais crítica e inteligente. Sério, não há crítica melhor que aquela expressada através do humor. Até mesmo quando o objetivo do humor não seja fazer crítica, seja apenas falar merda mesmo. Se você não é capaz de reconhecer que a nossa cidade tem diversos problemas quando alguém diz que "iria querer se matar se morasse em Macapá" você é capaz de falar mal (o que é diferente de criticar) de um humorista mas é incapaz de fazer algo construtivo pela sua cidade.


Morte ao falso moralismo!


Por fim, resta só uma coisa a se dizer: se você não gosta do humor exagerado, escroto e de mau gosto do Rafinha Bastos, vai assistir Zorra Total então. Problema resolvido.