domingo, 24 de abril de 2011

Política Galática

AVISO DE SPOILER: Star Wars - nova trilogia, se você se importar é claro. XD

Aos mais estudiosos e aos fãs de Star Wars: me corrijam no que eu estiver errado =]

A nova trilogia de Star Wars se propõe a contar a história de como o Cavaleiro Jedi Anakin Skywalker foi manipulado a ponto de trilhar o caminho do lado negro da força e se tornar um dos maiores vilões da história do cinema: Darth Vader.
Além daquele lance de Bem e Mal, a história também conta com um fundo político muito interessante. Tudo comina com o momento em que Anakin Skywalker, que já não tinha mais muita fé na República, nem mesmo no Conselho Jedi, encontra o Lord Sith prestes a ser executado pelo mestre Windu, Mestre Jedi interpretado por Samuel L. Jackson. Mas para nós entendermos porque esse momento foi o crucial para que Anakin abandonasse os valores Jedis e trilhasse o caminho do Lado Negro, vamos voltar um pouco na história da humanidade.

Antigamente, quem governava o Estado era o Rei, o Imperador, o Monarca, etc. Era uma única pessoa, cujo poder era hereditário, ou seja, passava de geração em geração da sua família. Como somente o Rei detinha o governo, ele comandava tudo. A sua palavra era a Lei, sua vontade era o destino do Estado e o seu julgamento era absoluto. "O Estado sou Eu" como diria Luiz XIV. Mas como não é legal todo o poder concentrado na mão de uma só pessoa (não é legal pro povo, é claro hehe), foram surgindo outras formas de governo. Esses sistemas de governo foram evoluindo até nós chegarmos nas versões atuais de República e Democracia, bem como na divisão clássica dos três poderes: executivo, legislativo e judiciário. Explica-se. Através da República, todo poder emana do povo, é dado pelo povo e pode ser retirado pelo povo. Na Democracia, o povo participa das decisões do Estado. No caso do Brasil e muitos outros países, a Democracia é exercida indiretamente, pelos representantes escolhidos pelo povo. Na divisão dos três poderes, não cabe mais a uma única pessoa criar as Leis e aplicá-las. Cada poder existe para controlar um ao outro, impedindo arbitrariedades e abuso de poder do outro poder. Cabe ao poder Legislativo, que é representado pelo órgão dos representantes do povo, a Câmara e o Senado por exemplo, criar leis, que devem ser aprovadas pela maioria. Cabe ao poder Executivo, o chefe do Estado, direcioná-lo para o rumo certo, de acordo com o que determinam as Leis. Por fim, cabe ao poder Judiciário, através dos juízes e tribunais, a resolução dos conflitos ocorridos dentro do território do Estado, tanto aqueles entre indivíduos em particular quanto os conflitos de ordem pública.

Dessa forma, o interesse do Estado não era mais o interesse do Rei, e sim, o interesse do povo. Mas, para que o Estado pudesse realizar suas atividades voltadas para o interesse público, não para o interesse pessoal daqueles que o controlam, sua atividade teve que ser completamente regulada por normas. Entre essas normas nós temos a Lei Maior, que é a que regula a atividade de todos os poderes do Estado, impendido que estes cometam excessos. Nascia, assim, a Constituição. Toda atividade do Estado, bem como toda Lei imposta por ele, não pode estar em conflito com essa Lei Maior. De igual forma, toda atividade do Estado não pode estar em conflito com as leis que regulam a determinada atividade. Em suma, pro Estado fazer qualquer coisa, este deve obedecer à Lei e ao procedimento previsto em Lei. Nascia, assim, a burocracia.

No universo de Star Wars, os valores de Democracia e República encontram-se consolidados no Senado Galático, órgão máximo da galáxia. Não há, no caso, um Chefe da Galáxia, somente o Senado, os representantes de cada sistema solar (ou planeta, sei lá), e é este Senado que governa a Galáxia. Acontece que a Galáxia está em crise. Em tempos de crise, a burocracia não ajuda pois ela é lenta. Não havia tempo para o Senado ficar discutindo por dias qual era a melhor decisão enquanto o caos tomava conta da galáxia. O próprio Senado estava em crise. A solução encontrada, então, foi ampliar os poderes de um único Senador, dando a ele mais controle sobre as decisões do Senado, por um tempo limitado, para que este pudesse agir mais rapidamente para contornar a crise. Escolheram então uma figura poderosa e influente, o Senador Palpatine. Anakin Skywalker viera de um planeta governado basicamente por bandidos, então passou a admirar a Democracia e a República assim que abandonou sua terra natal. Ainda assim, aprovava cada vez que o Senado aumentava os poderes do Senador Palpatine, uma vez que a burocracia somente atrapalhava na crise em que viviam. O Senado estava fraco, e aos poucos Anakin começou a perder a fé na Democracia e na República, ainda que lutasse para defendê-la. Além disso, confiava muito no Senador Palpatine. Já o Conselho Jedi estava com a pulga atrás da orelha com aquele homem ganhando cada vez mais poder no cenário político da Galáxia. O Conselho chegou a pensar em assumir o controle do Senado caso a guerra terminasse e o Senador Palpatine não estivesse disposto a abdicar de seus poderes. Nesse ponto da história, o jovem Skywalker já estava completamente confuso. De um lado, o Senador Palpatine lhe influenciava a não confiar no Conselho Jedi. De outro, o Conselho Jedi queria que Anakin os mantivesse informados de qualquer ação tomada por Palpatine! Aí a coisa ferrou de vez quando Anakin descobriu que o Senador Palpatine era o Lord Sith que estava trazendo toda a desgraça pra galáxia. Aí parece simples né, bem e mal, o bem tem que ganhar do mal, etc...


Anakin poderia ter acabado com tudo ali, mas achou melhor informar ao conselho Jedi. Contou a descoberta para o Mestre Windu que foi logo ao encontro do Lord Sith, mas não autorizou que Anakin fosse junto. Claro que Anakin, que já não gostava do Conselho, não gostou da proibição, e resolveu ir por conta própria até Palpatine para ver o que aconteceria. É aí então que chegamos na cena citada no início do post. Anakin encontra o Lord Sith prestes a ser executado pelo Mestre Windu. O Lord Sith implora por ajuda. Anakin diz que ele não pode ser morto, que ele deve ser julgado pelas leis. Com essa afirmação, Anakin Skywalker invocou todas as conquistas que fizemos ao longo do tempo, na história da sociedade humana e da formação do Estado. Mas o mestre Windu se recusou e disse que Palpatine precisava ser morto, pois ele era muito influente, ou seja, com certeza conseguiria manipular o julgamento a seu favor. Então, decidiu matá-lo. Mesmo assim, Anakin foi contra e atacou o Mestre Windu, o que resultou na morte do personagem do Samuel L. Jackson. Finalmente, ao invés de levar o Senador Palpatine para ser julgado por toda a crise que trouxe à galáxia, Anakin resolveu se juntar a ele no lado negro da força. WTF??? Acho que Anakin não precisava ser tão radical e poderia continuar com a sua idéia de levar Palpatine a julgamento, mas vai entender o que se passava na mente do pobre Skywalker diante de tudo aquilo né, fora sua sede por poder e a vontade de salvar Padmé da morte... u.u

O resultado da história: o Senador mais influente da Galáxia utilizou o atentado que sofrera para aumentar sua influência e prestígio, tendo quase todo o Senado a seus pés e declarando a formação do Império Galático. O Senado já estava tão fraco que não parecia uma má idéia dar todo o poder possível para um Imperador que parecia saber como botar a Galáxia no rumo certo. Foi assim que surgiu o Império. Também é uma demonstração do que acontece quando ignoramos todas as conquistas democráticas e achamos que o certo é concentrar todo o poder do Estado nas mãos de um único líder, o qual parece bom o bastante para governar, mas na verdade deixa-nos a mercê da sua arbitrariedade. A única coisa boa disso tudo, sem dúvida, foi que Anakin Skywalker, aquele cavaleiro Jedi sem graça, tornou-se Darth Vader!

Enfim, disso tudo dá pra entender a importância que nossos deputados, senadores, governadores, tribunais e a própria burocracia têm para o bom funcionamento do Estado. Quando a gente pensa que as instituições democráticas não funcionam, temos que pensar também que poderia ser pior. Poderia ser uma ditadura, sem liberdade e com leis que emanassem de uma única pessoa. Infelizmente, ainda há muita brecha para gente corrupta utilizar o Estado em interesse próprio, não no interesse público. Aqui no Brasil, nós temos o nosso próprio Senador Palpatine. Um homem que possui quase todo (no fim das contas, não podemos generalizar) o Senado na palma da sua mão. Assim como também possui influencia na Câmara, nos governos estaduais, no judiciário e até mesmo na Presidência da República. Provavelmente possui um vasto conhecimento do lado negro da força, já que está no poder até hoje e o desgraçado não morre! Mas há também uns poucos rebeldes que ainda lutam contra as forças do mal. Ao menos a nossa República, por pior que seja, não é o Império. Nós ainda temos o poder do voto, o poder de escolher quem a gente quer que governe. E por incrível que pareça, apesar de alguns resultados desastrosos na última eleição, também obtivemos resultados surpreendentes. O voto é o nosso sabre de luz na democracia.

Que a força esteja conosco!

 

3 comentários:

  1. "O voto é o nosso sabre de luz na democracia." Boa frase, foi um bom esclarecimento de como somos governados (ou manipulados...). Analogia com Star Wars Win!!

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  2. muito legal a analogia mesmo!
    ri muito quando citou o "nosso" senador palpatine... pensando bem as coisas funcionam assim mesmo.

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  3. Gostei :D
    Principalmente por ser uma analogia de Star Wars o/

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