sexta-feira, 27 de julho de 2012

Discutir política? Eu não!



Em ano de eleição nós vemos manifestações políticas de todo lado. Gente defendendo um candidato, gente defendendo outro candidato, gente defendendo o voto nulo, gente se matando nas redes sociais... Tem de tudo! No facebook iniciaram uma campanha, a qual eu aderi, em que as pessoas pedem gentilmente que os outros usuários do facebook não postem propaganda eleitoral. Em resposta os defensores da liberdade de expressão, de opinião e de políticos babacas começaram veicular coisas do tipo “Se você não gosta de política, não pode reclamar do futuro do país.”

Uma que me chamou a atenção era algo do tipo “Temos que debater política para construir uma sociedade melhor”. Foda-se, não lembro o que tava escrito. Mas eu fiquei refletindo um pouco sobre essa afirmação principalmente sobre a palavra “debate”, se é que ela estava na frase. Eu sou um grande fã do debate. Adoro discussões de alto nível com pessoas inteligentes utilizando-se de bons argumentos para convencer outras pessoas do seu ponto de vista, convergindo, ou não, no final, todas as idéias em um consenso. Mas cara, vocês já viram duas discussões mais inúteis que religião e política? Sério, nunca vi uma conversa sobre política ou religião chegar a lugar algum! No final os dois lados pensam que venceram a conversa, que têm melhores argumentos e que o outro lado é um idiota.

Falando especificamente sobre política agora. De fato, a política na democracia e na república não pode existir sem o debate de idéias. Mas que idéias são essas? Um é socialista, outro é capitalista. Um acredita que o governo deve intervir na economia, outros defendem liberdade ao mercado. Alguns são conservadores, outros liberais. Na verdade, meus amigos, a política é muito mais complexa que essas simples dicotomias utilizadas como exemplo. A verdade, a cruel verdade, é que você, meu amigo, não entende de política.

Você não entende, o seu vizinho não entende, a sua família não entende, os seus amigos revolucionários não entendem e eu também não entendo. A gente pensa que sabe as coisas, mas não sabe. A gente pensa que sabe qual foi o melhor governo, mas na verdade não sabe.
Por exemplo, um leigo pode chegar e dizer que o governo X foi melhor que o Y e que a mudança é evidente pois a economia melhorou, os pobres deixaram de ser pobres, foram construídas casas e etc. E outro leigo pode vir e dizer que essas políticas são boas a curto prazo mas a médio e longo prazo serão ruins. O fato é que nenhum de nós sabe se a razão está com a primeira pessoa ou com a segunda.

Para se discutir política decentemente, com bons argumentos, a pessoa tem que ter lido Sócrates, Platão, Aristóteles, John Locke, Tomas Hobbes, Rousseau, Voltaire, Montesquieu, Karl Marx, Max Weber, e etc., etc., etc. Fora que tem que entender o que é economia, o que é o mercado, a sociedade de consumo, analisar as principais estratégias do mercado das outras nações... enfim, essa é a base pra você poder levantar bons argumentos pra sustentar alguma tese que defenda determinado político.

Mas o que a gente vê na prática é: “Fulano fez isso.”, “Fulano fez aquilo”. “Fulano fez obras que melhoraram a cidade.” “Fulano se aproveitou das obras do governo anterior.” Dessa forma, pro mesmo fato, a interpretação de um defensor de um político será diferente da do defensor do outro político. Porém, com os argumentos pífios que estamos acostumados a ver nesses “debates políticos”, se você estiver indeciso, vai continuar indeciso ou será convencido por qualquer coisinha como a inauguração de uma praça porque, assim como os interessados não têm base pra discutir, o entendedor não tem base para entender.

Não culpo ninguém que não goste de discutir política. O brasileiro não foi preparado para discutir política, ou melhor, fomos condicionados a não discutir política. Não entendemos nada sobre ideologia política, sobre políticas sociais. Falamos aquilo que experimentamos na prática, mas, até isso, na hora de debater, não conseguimos, pois não desenvolvemos um raciocínio lógico, coerente e bem fundamentado. Assim a gente se perde no senso comum (que é bem verdade, na minha opinião) de que todo político é corrupto, nenhum político cumpre promessas e que são todos farinha do mesmo saco. Nós conseguimos aceitar essas “praticamente verdades universais” facilmente, mas não estamos preparados pra ENTENDER qual foi o melhor governo ou quem é o melhor político.

Assim, o resumo de um debate político é: um defensor burro de um político discute com o defensor burro de outro político e ambos tentam convencer uma parcela burra de eleitores indecisos que acabam votando em um ou outro por coisas banais como a criação de uma escola ou um buraco tapado na rua. Eu duvido que algum dos meus mais de 500 amigos no facebook consegue fazer uma discussão política além dessa que citei aqui. E eu sou uma dessas pessoas burras. Julgo ter revelado a “verdade” pra vocês nessa postagem mas nem eu sei o que estou falando aqui. Meu próximo voto burro muito provavelmente irá ser fruto do raciocínio idiota aqui apresentado.

O voto mais sincero que existe, é aquele por interesse. Não, não to falando do interesse em ganhar um cargo. Eu falo do interesse no sentido da representação. "Vou votar em fulano porque ele representa a classe empresarial." "Vou votar em cicrano porque ele representa a classe dos professores ." Eu posso citar o nosso querido Camilinho como exemplo. Que o governador é ruim, isso não é difícil de enxergar. Um governador incapaz de negociar com os grevistas a ponto de deixar a educação, setor fundamental do Estado, um caos, só pode ser um governador ruim pra caralho. Isso é fato. Porém, nesses dois anos de governo Capi, ops, Camilo, eu tive oportunidade de assistir Angra e Dr. Sin, que foram trazidos pra cá pelo Governo do Estado. Ainda, reza a lenda de que a banda larga finalmente chegará ao Estado esse ano. Dessa forma, eu só posso concluir que o governador é rockeiro e joga World of Warcraft e Diablo 3, ou seja, alguém que está disposto a atender os interesses da minha classe. Não estou lançando meu apoio para a reeleição do Camilinho, mas até que essas políticas de cultura e infra-estrutura dele já valem meu voto, olha... xD

Deu pra entender? Se o debate antes já era inútil, imagina agora que temos pelo menos um interesse em jogo, por exemplo, o interesse daqueles que querem Internet de qualidade e o dos que acreditam que já existe banda larga no Amapá (matéria de jornal que li na eleição passada haha).

Concluindo, o que eu quero dizer é que, se eu não gosto de discutir política, não venha encher meu saco com as idéias idiotas do seu candidato babaca. Porque você não sabe o que ele está falando, eu não sei o que ele está falando e o próprio candidato não faz a mínima idéia de quais são seus planos para o mandato (talvez se fizessem, cumpririam alguma promessa). Ou seja, enquanto não formos inteligente o suficiente pra isso, debater política continuará sendo uma perda de tempo. Será uma discussão que mudará de rumo ao mero escândalo de corrupção ou então ao vazamento da opinião de um político que a maconha deve ser legalizada.

Então se você vier encher meu saco, dizendo que eu devo falar sobre política para construir uma sociedade melhor ou que o candidato que eu votei não era um bom candidato, desde já, vá se foder.

Se você ainda não entendeu qual é a vibe da parada sugiro que leia a letra dessa música, que não é do Kazuza, nem do Renato Russo:


Desconheço quem tenha razão
Acho perda de tempo qualquer
Discussão
Em defesa daquilo que o serve
Muito se fala,pouco se escreve
Há quem saiba o que ninguém mais sabe
E quem veja o que ninguém mais vê
Quem leva a sério o quê?
Quem quer saber de quê?
Quem pode me dizer
Como exatamente todo mundo deveria
Ser
Coerência na persuasão
Pré-estabelecida está a conclusão
Se eu falar sobre o que não entendem
Poucos escutam,muitos se ofendem
A verdade é que não há verdade
Tudo é porque não há não ser.

Quem leva a sério o que? - Matanza

Leiam, comentem, xinguem, divirtam-se.

3 comentários:

  1. hahahaha mano, seu foda *-*
    droga, eu tava com uma preguiça gigantesca de ler isso só de olhar o tamanho, pensei "vou ler a primeira linha pra ver se vale a pena" e cara, não consegui parar, só não tive paciência pra ler a música, até porque conheço já.. blabla.. não precisa.
    Demais teu texto, concordo muito. Amo debates, mas debates que deem futuro, não um só pra perder tempo e saliva .-. vai todo mundo ler Karl Marx quié e para de encher o saco u.ú
    "Dessa forma, eu só posso concluir que o governador é rockeiro e joga World of Warcraft e Diablo 3" AOSIOASIAOSIAOSIOAISOAISOAISOAS ' CARA, quase morro de rir com isso.
    Afs, tava com saudade de voltar aqui, muito bom, sempre :3 dá sempre pra rir e refletir..

    Bjs mano *-*
    Raehli Hage

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  2. Nem tenho muito o que falar, a não ser: MUITO BOM!
    Fica um tempão sem postar e, quando volta, vem com um texto perfeito desse! XD Concordo com tudo que vc escreveu, e a música do Matanza fechou o post de uma forma excelente...! Muito bom mesmo!
    Melhor parte, concordando com o comentário acima:
    "Dessa forma, eu só posso concluir que o governador é rockeiro e joga World of Warcraft e Diablo 3"!!! HUAHUAHUA!!!
    Parabéns, seu nerd! =*

    Ah, mencionei seu blog nesse post aqui, oh:
    http://chatanerd.blogspot.com.br/2012/07/ganhei-um-selo.html
    Coisa besta, mas vale! ^^v

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  3. Adorei!
    Muito boa sua Dissertação.Você tem uma visão realista e objetiva sobre esse assunto.
    É exatamente o que eu penso, pois nunca li livro de Sócrates, Platão, Aristóteles, John Locke, Tomas Hobbes, Rousseau, Voltaire, Montesquieu, Karl Marx, Max Weber, e etc., etc., etc.
    O que eu sei sobre eles foi o que estudei na Faculdade, ou seja, muito pouco.
    Portanto penso como você.
    Quem sabe agora nesta minha fase de vida mais tranquila eu disponha de mais tempo para a leitura desses camarada??!!!!
    Abraços Natan.

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